César Bolaño vence concurso de ensaios da CLACSO

César Bolaño, presidente da ULEPICC-Brasil, é um dos vencedores do concurso de ensaios Haydée Santamaría, oferecido pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO), com trabalho intitulado Economia política, cultura e a batalha da comunicação na América Latina do século XXI.

A ideia de uma “batalha da comunicação” presente no texto se refere à participação da mídia hegemônica nos movimentos, por toda a América Latina, mas de forma mais dramática no Brasil, que levaram ao fim de boa parte dos governos ditos progressistas que estiveram no poder nas últimas duas décadas no continente.

De acordo com o ensaio, duas atitudes foram adotadas por esses governos em relação às políticas de comunicação: confronto, no caso dos países em que se instituíram novas “leis de meios”, como intento democratizante frente ao poder dos oligopólios; ou de submissão, como no caso brasileiro, em que praticamente nenhuma mudança significativa foi realizada. Não obstante, em ambos os casos, a chegada de governos de direita ao poder foi seguida de rápido e implacável retrocesso na matéria. Segundo o autor, isto se deve, em geral, a uma concepção da mediação social, comum a todos eles, que privilegia a comunicação de massa, em sentido próprio, a propaganda, o marketing, desprezando aquela, de uma “nova mediação possível”, vinculada à construção do poder popular a partir da base.

Assim, o texto defende que a problemática da comunicação se desloca imediatamente para aquela da hegemonia, expressa na ideia de Celso Furtado, incorporada pelo autor, de construção de um “sistema global de cultura” alternativo, cuja condição de existência é a autonomia cultural da classe trabalhadora na resistência às formas de vida e padrões de comportamento que a Indústria Cultural, a publicidade, os meios de comunicação de massa representam.

Nesse sentido, o autor recupera as concepções mais antigas de Lênin sobre o jornalismo como instrumento de organização da classe, em oposição à ideia de comunicação que se consolida com o poder soviético, reproduzindo, na verdade, como em outros campos, a exemplo das teorias da administração, a concepção hegemônica norte-americana monopolista. Assim, a crítica dos projetos de organização dos sistemas de comunicação dos governos chamados democráticos e populares exige repensar o conjunto do projeto contra hegemônico que eles pretenderam representar.

Sem entrar especificamente nessa crítica geral, segundo ele necessariamente coletiva e internacional, o pesquisador trata de explicitar as grandes questões teóricas e históricas que a mesma envolve, discorrendo ao longo de 73 páginas sobre temas como dependência e hegemonia, transformações na estrutura de classes do capitalismo ao longo do século XX, terceira revolução industrial, subsunção do trabalho intelectual, neoliberalismo, entre outros, fundamentais para a compreensão dos desafios da esquerda e das forças progressistas, e não apenas na América Latina, nesta particular quadra da história mundial.

Sobre o premiado

A premiação de Bolaño representa o reconhecimento, pela maior entidade do campo das Ciências Sociais da América Latina, da relevância dos estudos de Economia Política da Comunicação e da Cultura, dos quais o autor é um dos mais destacados representantes.

Seu livro Mercado Brasileiro de Televisão, publicado em 1988, cuja segunda edição, revista e ampliada, de 2004, foi publicada também em espanhol, em 2013, é considerada a obra fundadora da EPC no Brasil. Seu livro mais conhecido, Indústria Cultural, Informação e Capitalismo, de 2000, teve também tradução para o espanhol, publicada em 2013 pela editora Gedisa, e para o inglês, publicada pela Pallgrave MacMillan, em 2015.

Além disso, Bolaño está na origem da organização do campo da EPC, tendo sido o fundador e primeiro coordenador dos primeiros grupos de trabalho na área: da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM) e da Associação Latino-americana de Investigadores da Comunicação (ALAIC), entidade, esta última, da qual foi presidente de 2009 a 2014. Foi também o fundador da principal revista do eixo teórico-metodológico, a EPTIC Online, quadrimestral, que em 2018 entra no seu vigésimo volume. O pesquisador foi também o fundador e primeiro presidente da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC) e atualmente preside o capítulo brasileiro da entidade (ULEPICC-Brasil).

Sobre o prêmio

O prêmio foi lançado pelo CLACSO, como parte das comemorações dos seus 50 anos de existência, em associação com a Casa de las Américas, tendo como patrona Haydée Santamaría (1923-1980), revolucionária e intelectual, que fundou e dirigiu aquela importante instituição cubana.

O prêmio foi dividido em duas categorias, uma para autores cubanos, com o tema “Cuba: política, movimentos sociais e desafios do legado revolucionário”, e outra para autores de outros países, sobre “Os dilemas da esquerda e das forças progressistas na América Latina”. Dois cubanos e quatros outros latino-americanos foram agraciados. O júri internacional do prêmio esteve presidido por Roberto Fernández Retamar, presidente da Casa de las Américas. A entrega do prêmio e a publicação do texto serão no ano que vem, em data a ser confirmada.